31 de agosto de 2010

O cinema de Rafael Saar encontra Luhli, Lucina e Baby do Brasil

Luhli & Lucina - foto de Luiz Fernando Borges da Fonseca

Baby do Brasil em show no Sesc Pompéia-SP - Foto de Gabriel Chiarasrelli
Depois de seis curtas-metragens, entre eles o premiado Depois de Tudo (2008) com Ney Matogrosso e Nildo Parente, o cineasta Rafael Saar engata em 2010 duas produções que prometem chacoalhar o cinema documental brasileiro. O longa-metragem Apocalipse segundo Baby com previsão de lançamento para 2012, enfocará toda a carreira da cantora niteroiense ( ou baiana da Baía de Guanabara, como ela mesmo diz), incluindo a longa jornada junto aos Novos Baianos e os projetos solos posteriores, mas com ênfase na sua incessante busca espiritual , numa ponte entre a Baby esotérica e a evangélica atual. Já Luhli & Lucina – Porque sim, porque não?, produzido em parceria com o Canal Brasil, concluirá a maioria das filmagens este ano para lançamento em 2011. A cultuada dupla, que já foi Luli & Lucinha, existiu entre 1971 e 1997 e deixou marcas na história da nossa música, ao lançar um dos primeiros discos independentes brasileiros e tratar pioneiramente de temas ecológicos. As duas continuam a mil, em produções solos e vários projetos culturais/sociais. Luhli foi quem apresentou Ney Matogrosso a João Ricardo do Secos & Molhados e foi co-autora de dois dos maiores sucessos da banda, O Vira e Fala (João Ricardo- Luhli). Lucina iniciou carreira no grupo Manifesto, que acompanhou Gutemberg Guarabyra na apresentação da sua vitoriosa Margarida, no II Festival Internacional da Canção de 1967. Além da face musical, o longa trará à tona a vida alternativa e comunitária de Luhli, Lucina e o fotógrafo Luiz Fernando Borges da Fonseca, um “casal de três” que deu muito o que falar na época.

Luhli, Lucina e os tambores - foto de Luiz Fernando Borges da Fonseca
Entrei em contato com Rafael Saar via internet, para falar sobre cinema e jogar um pouco de luz sobre os dois trabalhos:

AM –Baby do Brasil, Luhli e Lucina viveram à fundo o conceito de comunidade hippie. Ney Matogrosso era hippie antes dos Secos & Molhados e sempre manteve ao longo da carreira uma postura “alternativa”. Quais são as pontas que ligam esses quatro peculiares artistas brasileiros ao cinema de Rafael Saar?

RS-Todos eles são especialmente cinematográficos por possuírem uma proposta estética sonora e visual muito interessante e particular. Além disso o pioneirismo destes artistas, que tendo surgido todos num mesmo momento histórico de repressão do país, mudaram desde os meios de produção musical, passando pelas influências que deixaram na própria música brasileira e chegando ao comportamento da sociedade.

AM-"Luhli & Lucina – Porque sim, porque não?" dará grande enfoque ao singular relacionamento entre Luhli, Lucina e Luiz Fernando Borges da Fonseca. "Apocalipse segundo Baby", adentrará o esoterismo e o mundo evangélico para seguir a carreira da múltipla Baby do Brasil. Com você não tem essa de ‘suavidade nos temas’, né?

RS-São histórias lindas e instigantes e o que proponho é tratar estes temas de forma natural. Seja no amor de Luhli, Lucina e Luís, ou de Baby e Pepeu; seja na música gospel de Baby ou na pesquisa de pontos de umbanda de Luhli e Lucina; discutir ou entender de que forma estes aspectos influenciaram e influenciam a arte que eles produzem.

Baby do Brasil em show no Sesc Pompéia-SP - Foto de Gabriel Chiarasrelli

AM-Existe uma amnésia crônica e um desleixo generalizado no Brasil em relação à sua memória cultural. Como conseqüência, resgatar documentos e materiais de arquivo torna-se um dos maiores obstáculos na produção de documentários. Como andam estas “escavações” para as duas produções?

RS-Os obstáculos são muitos nas escavações de material de arquivo, que são fundamentais neste tipo de proposta de trabalho. É uma pena que os arquivos, principalmente de emissoras de TV, cuidem tão mal de acervos tão preciosos à memória cultural. Estamos ainda em busca de muitos programas e filmes dados como perdidos, tanto dos Novos Baianos, como de Luhli e Lucina.
É uma pena também que o acesso e o preço que se paga por esse acesso seja tão alto, e por vezes inviabilize que idéias se concretizem, e que as pessoas tenham a possibilidade de conhecer sua história.
Conto muito com a ajuda de colecionadores, pesquisadores e fãs em geral que tenham imagens desses artistas para que os projetos se concretizem.

AM-Como você vê o atual mercado de documentários no Brasil? Existe um novo boom do gênero no país, paralelo ao sucesso alcançado pela literatura biográfica?
 
RS-Com a dificuldade que tem se encontrado para financiamento de projetos de ficção, que são bem mais caros, e com o digital e o barateamento dos meios de produção, o documentário ganhou um impulso muito grande. O importante agora é fazer com que toda esta produção chegue ao grande público, na salas de cinema e na TV aberta, e saia do pequeno circuito de festivais.
 
AM-Obrigado, Rafael, pela entrevista. Alguma colocação final?
 
RS-Quem puder contribuir com material como filmes, vídeos, áudios e fotos para os projetos, entre em contato com rafaelsaar@gmail.com
 
AM-Valeu!
 
Seguem os promos das duas produções:
http://www.youtube.com/watch?v=jupTPIMI63Y   Baby  
http://www.youtube.com/watch?v=bu7Fbo9EXAM Luhli e Lucina Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=zt4hGb8Rugs  Luhli e Lucina Parte 2

27 de agosto de 2010

O melhor de Chico nas bancas

Hoje nas bancas chegou o primeiro disquinho/livreto da 'Coleção Chico Buarque' (Abril Coleções). Ao que parece, a Abril engata a mesma marcha da Folha, que lançou num fôlego só, coleção sobre bossa nova e na sequência, série com compositores da velha guarda da MPB, que termina justamente nesta semana, após 25 volumes. O formato é o mesmo, mas a nova coleção, além de focar um artista só, recupera os discos oficiais de carreira, lançados originalmente em vinil. Como a inclusão de todos os discos da longa carreira de Chico ficaria inviável para um lançamento desses, optou-se por uma seleção com os 20 discos mais relevantes, onde o principal jurado, ao que parece, é o próprio Francisco Buarque. A começar por esse primeiro, Chico Buarque 1978, que já na apresentação aparece como o disco escolhido pelo próprio compositor para inaugurar a coleção. Eu estou com ele: esse sempre foi, ao lado do Construção (1971 - o 2º da coleção) meu 'disco do Chico de cabeçeira'. As suas faixas misturam trilha de teatro e cinema, músicas liberadas depois de anos no cabide da censura e inéditas imponentes. Nesta amálgama surgem vários Chicos: o político (Apesar de Você/ Cálice/Tanto Mar), o cronista (Feijoada Completa/ Trocando em Miúdos/Pivete), o desbravador da alma feminina ( O Meu Amor/ Pedaço de Mim) e até o narrador satírico/crítico de si mesmo ( Até o Fim). Um clássico disco pra iniciar uma coleção interessante. Pra encerrar eu iria comentar sobre uma grande lacuna, que a primeira vista eu não havia localizado: Chico Canta (1973) não está entre as capinhas da coleção e eu já ia reclamar, por ser esse um clássico iminente, talvez o mais político deles e o mais decapitado ( há músicas sem letra nenhuma e outras com o áudio avariado). Mas então botei a vista em Calabar, o Elogio de Traição (1973) e saquei tudo: a coleção não só incluiu as músicas de Chico Canta, como manteve o nome da peça que na época foi censurada e não pôde dar nome ao disco. Uma boa surpresa inicial - veremos se o repertório será idêntico. De resto, alguns discos paralelos à discografia oficial, como o italiano, c/ arranjos de Ennio Morricone ( Per Un Pugno di Samba - 1970) e o ao vivo, e fácil de encontrar até hoje ( Ao Vivo Paris - Le Zenith - 1986). De lacuna mesmo, só o Vol.4 (1970), um disco bacana ( que inclui o desabafo Agora Falando Sério), mas que talvez o compositor não goste tanto, por ter sido uma imposição da gravadora após o fracasso de vendas do primeiro disco em italiano. O resto, só alegria: estão incluídos os imbatíveis Construção, Meus Caros Amigos (1976), Vida (1980) e Chico Buarque (1984). Os iniciais, que firmaram Chico como grande cronista, do naipe de Noel Rosa e Sinhô: Chico Buarque 1 (1966), Vol.2 (1967) e Vol.3 (1968). E os da última lavra, que se não chegam aos pés dos antigos, também não comprometem a obra. Resumo da Ópera do Malandro: entre violências gratuitas dos jornais diários, fofocas inúteis das revistas de celebridades e pornografia e futebol saindo pelo ladrão, a coleção Chico Buarque é um alento aos olhos de quem merece um oásis logo de manhãzinha, depois do café com pão de sexta-feira.

20 de agosto de 2010

Além de Os Flinststones e Os Jetsons, havia também outra família típica de Hanna-Barbera:Os Muzzarelas

Quando é lançada a pergunta aos fãs e apreciadores de desenhos animados: "Quais foram as séries clássicas da Hanna-Barbera protagonizados por famílias?", a resposta quase sempre é imediata: "Flinststones e Jetsons". Estas foram realmente as mais famosas, mas houve também outra, caracterizada também em um tempo antigo, mas bem mais a ver com a nossa civilização moderna: Os Muzzarelas, família de "classe média" da Roma Antiga. Muitas gags são similares às duas famílias mais famosas: os eletrodomésticos e objetos "adaptados" da época, comportamentos modernos acoplados à rotina e todo o perfil psicológico inerente aos membros cosanguíneos. Aqui temos o chefe de família sempre às voltas com o aluguel, a esposa que resolve suas trapalhadas, a caçula espertinha e o irmão que não quer saber de trabalho. O animal de estimação também surpreende: se na pré-história há um jovem dinossauro (Dino) e no futuro um simpático cão falastrão (Astro), entre os membros da família romana reina o folgazão e sensível Brutus, um enorme leão que de feroz não tem nada. Segue o primeiro episódio da série, dividido em três:

19 de agosto de 2010

Baú do Seu João 4 - Cinelândia- setembro de 1954 ( da Série Revistas de cinema que sobreviveram à terrível batalha contra os cupins cinéfilos




Aconteceu no começo do mês. Meu pai me ligou com uma voz esquisita e eu logo saquei que havia algo terrível no ar. E havia mesmo: suas mais de duzentas revistas de cinema, que ficavam guardadas em caixas no velho guarda-roupa do "quartinho" ( cômodo separado da casa, no fundo do quintal) foram devoradas por uma impiedosa horda de cupins famintos. Gelei da cabeça aos pés e enquanto corria os 100 metros que separam nossas casas, já imaginava os buracos nos lindos olhos azuis de Marilyn, os rombos na barriga de Kim e as mordidas nas pernas da Audrey. Ao chegar lá, meus temores se materializaram: Cinemin, Cinelândia, Cine-Fan e Filmolândia, dezenas delas, em pandarecos, corcomidas pelos pequenos monstros cinéfilos que devoraram sem piedade, em pouco mais de um mês, capas com starlets e mocinhos, cenas de filmes antológicos e centenas de fotos do cast de ouro de Hollywood. Nem John Wayne deu jeito. Os maiores heróis do far-west e das milionárias sagas da época foram engolidos pelos miseráveis e minúsculos gulosos, sem mesmo terem tempo de sacar seus revólveres ou espadas. Moçoilas estonteantes não puderam nem retocar a maquiagem. Entre mortos e feridos, eu e Seu João ainda conseguimos retirar do desastre alguns exemplares intactos ou quase, cerca de vinte deles. Uma das edições resgatadas é esta acima, de 1954, com a capa da suprema loira ( que vendia mesmo sem ter matéria nenhuma sobre ela na edição) e que contém também a curiosa matéria que selecionei sobre a acidentada viagem de Ava Gardner ao Rio de Janeiro em setembro de 1954. Esta e outras que salvamos, serão postadas aos poucos no Almanaque do Seu João. Quanto aos cupins, da mesma forma que a Hollywood clássica, que sucumbiu aos seus próprios excessos, também eles tiveram uma morte agonizante e lenta, embebidos em veneno viscoso, após um mês de extravagante comilança entre os poderosos da indústria cinematográfica.

18 de agosto de 2010

Chorinho raro no Porta Curtas

De vez em quando dou uma bisbilhotada no ótimo Porta Curtas, portal patrocinado pela Petrobras com um acervo de mais de 700 curtas. Tem muitos filmes curiosos, novidades e raridades como este curta abaixo, "Chorinhos e Chorões", de 1974, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, com a consultoria de Lucio Rangel, arquivos de Almirante e narração de Hugo Carvana (que não parece em nada com o Hugo Carvana interpretando...). Vale a pena rever mestres como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Cesar Faria ( pai de Paulinho da Viola) e Luperce Miranda.



13 de agosto de 2010

Sexta Feira, 13 de agosto, com Zé Ramalho e sua trupe cordelista

Sexta feira? Dia 13? E ainda por cima agosto? como homenagear este dia cabalístico? Pensei em Black Sabbath, mas ia ficar meio óbvio. Aí me lembrei da capa mais sexta-feira 13 da nossa música brasileira (acima). Zé Ramalho - A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (1979) - CBS - é certamente a capa mais performática já feita por estas plagas. Estão lá, além do anfitrião paraibano, Zé do Caixão (José Mojica Marins), que dispensa apresentações, seu assistente careca, a atriz Xuxa Lopes, com uma providencial maquiagem vampiresca, e por último a figura naturalmente performática do artista Hélio Oiticica, que morreria logo depois. Toda esta encenação cordelista foi produzida pelo cineasta Ivan Cardoso, famoso por seus filmes de "Terrir" ( terror escrachado setentista). Além da capa para deleite, fiquem com um post do Som Barato do ano passado, que dá todas as coordenadas da obra em textos de Marcelo Fróes, Sidney Rezende e do próprio Zé Ramalho, uma matéria sobre exposição fotográfica de Ivan Cardoso em 2009 ( que inclui uma bela cena com todos os integrantes da contra-capa do 'Peleja') e uma seleção das grande músicas deste disco. A ultraconhecida Admirável Gado Novo, aparece em clipe feito para o Fantástico - e o mais inacreditável é a cena em que aparece um militar batendo em um cidadão - esse clipe foi ao ar em pleno governo Geisel. Terror é pouco.

7 de agosto de 2010

Morris e o elefante

Quem tem mais de 40 anos deve se lembrar do jingle " Ô, Mônica, abrace o elefante, e beije ele bastante..". Quem tem por volta dessa idade também se lembra da música "Feelings" de Morris Albert, um grande sucesso de 1975. A música de Maurício Alberto Kaisermann (o verdadeiro nome de Morris) vendeu horrores no mundo todo, teve uma versão vertida para o punk ( pelo Offspring) e em 1988 foi declarada pela Suprema Corte da Califórnia ( EUA) como plágio de "Pour Toi", uma música francesa de 1956. Eu nunca escutei a tal música francesa, mas o jingle do Extrato de Tomate Elefante da Cica sim, e dá para se perceber semelhanças na linha melódica (mas não suficientes para se caracterizar plágio) . Segundo o criador da turma da Mônica e xará do compositor, a música Feelings se "inspirou" no jingle criado alguns bons anos antes. Abaixo, o jingle todo (c/a declaração de Maurício de Sousa) e a inevitável Feelings...

6 de agosto de 2010

Quadrinhos? Literatura? Não, Mr.Crumb quer discos 78 rpm brasileiros dos anos 20/30

Quem foi na Flip para ouvir de Robert Crumb alguma teoria nova sobre a nona arte ou a linguagem dos quadrinhos na novo jornalismo, perdeu a viagem. Na verdade, Robert Crumb quiçá sabe porque realmente está no Brasil. É famosa a sua aversão a entrevistas, holofotes e qualquer assunto relativamente recente. "Sou um artista da idade média", diz de si mesmo. E dá-lhe mau humor e respostas evasivas. Embora seja o grande propagador do quadrinho underground que surgiu paralelamente ao acid rock em San Francisco nos anos 60 e tenha feito arte para capa de disco de rock (Janis Joplin & Big Brother & The Holding Co.), Crumb odeia qualquer música feita depois dos anos 50 e não conhece nada sobre os novos autores de HQ. Seu maior lance é blues e música de raiz. Daí o seu real interesse por discos de 78 das décadas de 20 e 30 onde quer que aterrisse. Procurem no baú de seus avós, pois ele paga bem!
Para quem quer conhecer mais sobre o Robert Crumb:
Matéria do UOL ( Maurício Stycer), que me deu a deixa:

Hoje é dia de relembrar três grandes da MPB: Baden Powell, Adoniran Barbosa e Moacir Santos




Os dois, Baden e Adoniran, nasceram no dia 06 de agosto. Moacir Santos faleceu há 4 anos atrás, em um dia 16/08. Um dia para relembrar três artistas excepcionais.

Baden Powell - Um dos mais criativos violonistas brasileiros, nasceu em 06/08/1937 e faleceu em 26/09/2000 - mês que vem já se vão 10 anos. Veja, ouça e leia mais no blog-irmão Consciarte, do meu amigo Rick Berlitz, especialista em bossa-nova:

Adoniran Barbosa - Este gênio paulista, nascido em 06/08/1910, completa hoje 100 anos e não poderia ficar de fora. Aqui mesmo no blog, já postei sobre Adoniran três vezes: relembrem:
No mês, mas principalmente entre hoje e domingo, há uma intensa programação em torno dos 100 anos do homem. Destaquei alguns bons programas para vcs (e um vídeo, pra não perder o costume):
*Vida Rouca: Wandi Doratiotto e Danilo Moraes- Usando cavaquinho, violão, guitarra e samplers, os músicos dão novos arranjos às canções de Adoniran.
Quando: Hoje (dia 06), às 21h
Onde: Auditório Ibirapuera (Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº - portão 2 do Parque do Ibirapuera) - Tel: (11) 5908-4299
Quanto: De R$ 15 a R$ 30
*Feira de Artes da praça Benedito Calixto celebra Adoniran Barbosa - A praça reúne amigos e parceiros musicais do cantor, além de exibir livros, discos e fotos de Adoniran. O jornalista e historiador Celso Campos Jr. participa do Autor na Praça, autografando a biografia no encontro que contará também com Sérgio Rubinato, sobrinho que entoará alguns dos clássicos do tio Adoniran. Outros shows ao vivo e uma mostra de filmes com a participação do sambista também fazem parte da celebração.
Quando: Sábado (07), a partir das 14h
Onde: Praça Benedito Calixto, 159 - Pinheiros
Quanto: Grátis
*Trovadores Urbanos - O grupo de serenatas tocará as principais músicas do sambista em três sextas-feiras do mês de agosto, na Janela do Sobrado, em Perdizes. Sucesso de público, o Seresta de Sexta vem chamando a atenção pelo seu formato inusitado: os músicos se apresentam na janela do sobrado, literalmente.
Quando: Dias 13/8, 20/8 e 27/8, das 20h às 22h
Onde: Rua Aimberê, 651, Perdizes
Quanto: Grátis
*100 anos de Adoniran com shows no CCSP - Diversos cantores, como Fabiana Cozza (08/08), Cauby Peixoto (15/08), Wanderléa (22/08) e Demônios da Garoa (29/8) se apresentam ao longo do mês de agosto para homenagear o centenário do compositor.
No sábado (07/8) 19h, tem Vânia Bastos e Maria Alcina. Domingo (08/8) às 18h , Osvaldinho da Cuíca, Fabiana Cozza e Milena.
Quando: dias 07, 08, 14, 15, 21, 22, 28 e 29/8. Sábados, às 19h, e domingos, às 18h
Onde: Centro Cultural São Paulo – Sala Adoniran Barbosa (Rua Vergueiro, 1000) 11 3397-4002 Quanto: Grátis
* Ouça/veja Adoniran interpretando algumas de suas criações geniais:
Moacir Santos - Nascido em 26/07/1926 em Pernambuco, maestro, compositor, arranjador, instrumentista, Moacir é um mito. Mais conhecido dos músicos do que propriamente do público, fez história no Brasil com seus arranjos para Ari Barroso e grandes nomes da bossa e antes de partir definitivamente para os States nos anos 60, deixou-nos um dos mais importantes discos da música brasileira, As Coisas (1965). Não contente, fez história por lá também, lançando discos primorosos (o primeiro foi indicado ao Grammy) e regendo como nunca. Antes de falecer, em 06/08/2006, teve bons lançamentos em CDs no Brasil e foi finalmente reconhecido em seu país, ganhando o Prêmio Tim (disco do ano) e o Prêmio Shell (conjunto da obra).
Em alguns momentos de sua biografia, Baden Powell se fez presente:Vinicius de Moraes se referiu a ele no famoso "Samba da bênção", composto em parceria com Baden Powell, nos versos: "...A bênção, Maestro Moacir Santos, que não és um só, mas tantos, tantos como o meu Brasil de todos os Santos...". Moacir participou também, de um disco de Baden Powell, como pianista e cantando em dueto com Alaíde Costa.
Músicas de Moacir de Santos:

A vida cinematográfica de Cartola

O saudoso Cartola, gênio intuitivo da nossa música, virou filme em 2006, e ainda por cima, filme bem falado por público e crítica. E não deveria ser diferente. A sua vida foi tão conturbada e movimentada, que daria pra se fazer uma penca de filmes bons, todos com doses cavalares de drama, comédia, aventura e sobremaneira, amor. Cartola nasceu Angenor é só foi descobrir que não era Agenor nos anos 60. Nasceu pobre no subúrbio, em 1908, e já na década seguinte a família se mudou para o morro, a sua amada Mangueira, que na época contava com pouco mais de 50 barracos. Com muito custo consegue terminar o primário, mas aos 15 anos, com a morte da mãe, se afasta ( ou é afastado) da família e cai na boêmia. Ainda na juventude se mostra bamba no samba e no copo e se faz respeitado pela malandragem local. Faz bicos em tipografias e na construção civil, e é na obra que conquista o apelido para a vida inteira: para evitar que o cimento e o cal caísse em seu cabelo, usava um chapéu alto, quase uma cartola. Antes dos 20, adoecido pelas noitadas no meretrício, é amparado pela vizinha Deolinda, casada e com uma filha, que acaba acolhendo-o em casa. O marido, Astolfo não agüenta a situação e sai de casa, fazendo de Cartola um chefe de família precoce. Em 1925 funda com Carlos Cachaça, amigo pra vida toda e parceiro mais constante, e outros sambistas como Massú e Zé Espinguela, o Bloco dos Arengueiros, que depois de se unir a outros blocos da comunidade, vira escola de samba em 1928, a segunda do Rio de Janeiro, com o pomposo nome G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira. Tanto o nome como as inusitadas cores verde e rosa foram escolha de Cartola. A partir daí, se tornou o principal compositor da escola, que até 1940 sagrou-se quatro vezes campeã do Carnaval do Rio. Além do seu prestígio dentro da verde e rosa, lançou seus sambas para fora do morro, primeiro em 1931, com a venda de Que Infeliz Sorte para Mario Reis, que fez grande sucesso nas rádios ao ser repassada para Francisco Alves, e em seguida, com outras criações, nas vozes de Araci de Almeida, Carmen Miranda, Mário Reis e Sílvio Caldas (o último,também parceiro). Com outro parceiro, Noel Rosa, compôs muitos sambas que se perderam nas noites de bebedeiras de ambos e nunca foram gravados – a exceção foi o samba ‘Qual foi o mal que te fiz’, gravado por Francisco Alves e creditado só ao mangueirense. Grande testemunha dessa parceria foi Deolinda, que deu muito banho no reincidente Noel, que vivia encharcando com seu companheiro e acabava pousando por ali. Noel logo faleceu, os sambas pingavam aqui e ali, mas o dinheiro era sempre curto e Cartola precisava de um emprego fixo. Na virada da década cria com Paulo da Portela um programa de rádio bem diferenciado, onde os ouvintes eram apresentados a sambas inéditos da dupla e podiam batizá-los. Também são dessa época as famosas gravações do maestro Leopoldo Stokowski no navio S.S.Uruguay, atracado no Rio em uma daquelas viagens da “boa vizinhança” EUA-Brasil. O maestro juntou a nata da música popular brasileira da época (Pixinguinha, Donga, João da Baiana, componentes da Mangueira, entre outros) e as execuções captadas na ocasião saíram posteriormente nos EUA em álbuns de 78 rpm. Algumas dessas faixas chegaram a sair no Brasil décadas depois em tiragem limitada através do Museu Villa-Lobos, mas logo voltaram a ser itens raríssimos como de início (para conhecer toda a saga, leiam as heróicas reportagens de Daniella Thompson feitas em 2005 http://daniellathompson.com/Texts/Stokowski/Cacando_Stokowski.htm .Cartola, claro, estava entre os escolhido e foi elogiado pessoalmente por Heitor Villa-Lobos, que ajudara o músico americano, mas dinheiro que é bom, never( na verdade, o compositor chegou a receber, um ano e meio depois, um pagamento que lhe rendeu três maços de cigarros vagabundos). Em 1941, logo depois de algumas apresentações com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres em São Paulo, Cartola simplesmente desaparece de cena. Por 15 anos, escafedeu-se do mapa! Depoimentos posteriores do compositor dão algumas pistas desse período, mas propositadamente o mantém na obscuridade: ‘coisas pesadas’ e ‘me envolvi com uma mulher’ são os termos usados. O que se sabe é que até 1946, ficou à beira da morte por conta de uma meningite e enviuvou-se de Deolinda. O fato é que Cartola sumiu, e do esconderijo em que estava, ainda pôde ouvir ou saber da vitória de sua Mangueira em 1948, com um samba seu e de Carlos Cachaça, “Vale do São Francisco”. Muitos achavam que o sambista tinha batido as botas, até que em meados dos anos 50, foi ‘encontrado’ pelo cronista Stanislaw Ponte Preta, lavando carros em um condomínio de Ipanema. Logo em seguida, Sérgio levou-o de volta para a rádio e Jota Efegê conseguiu-lhe um emprego no Diário Carioca. Outros como o cartunista Lan e o crítico e especialista Lúcio Rangel também abriram-lhe portas. Cartola voltava à vida. No fim da década, já enamorado de Eusébia Silva do Nascimento, a Zica,consegue algumas pontas em filmes, como no famoso Orfeu Negro de 1959 (veja aqui a aparição do casal nos 5min55: http://www.youtube.com/watch?v=ZtDNtvAJOC0 ).
Nos anos 60, volta a falar com o pai, reaproxima-se das composições e abre a porta de sua casa para os diversos amigos sambistas e boêmios. Nestas reuniões, onde a boa comida de Zica e a roda de samba imperavam, brota-se a idéia de um restaurante, que viria a se tornar realidade em 1964, com a inauguração do Zicartola, em 1964, na Rua da Carioca. Logo a casa se torna famosa, tanto pelos quitutes de Zica, como pela reunião da melhor música feita no morro e na cidade. Sambistas veteranos encontravam-se ali com a nova geração: Nara Leão ( que gravaria Cartola no show Opinião), Zé Keti, presença constante no palco ( e que também participaria do Opinião), o jovem Paulinho da Viola ( um dos primeiros da geração 60 a gravar Cartola), Nélson Cavaquinho e Hermínio Bello de Carvalho, entre outros. A casa não durou muito, mas ficou pra sempre cravada na história do Rio do Janeiro. Cartola prosseguiu, ainda pobre, mas finalmente com casa própria e emprego fixo (como contínuo) e redescoberto pela nova geração. A sua maior frustração era não ter um disco próprio. Essa lacuna só foi preenchida em 1974, quando o produtor Pelão ( João Carlos Botezelli), que já havia feito milagre no ano anterior ao produzir o disco de Nelson Cavaquinho, conseguiu convencer Aloísio Falcão, da gravadora Marcus Pereira, a fazer um disco solo do veterano compositor. Depois de algumas resistências internas, o disco não só saiu, como foi aclamado pela crítica e virou clássico no ato. Dois anos depois, repetiu-se a dose e o sucesso foi ainda maior: duas das músicas mais conhecidas de Cartola entraram no vinil de 76, ‘As Rosas Não Falam’ e ‘O Mundo é um Moinho’. A fase era tão boa, que Cartola finalmente estreou seu primeiro show individual, um sucesso que ficou em cartaz por meses.
A repercussão dos trabalhos na Marcus Pereira fez com que o compositor assinasse contrato com a major RCA Victor, que providenciou a produção de Sergio Cabral para o próximo disco, outro primor. Aos 70 anos, engatilhou ainda um quarto disco solo, enquanto finalmente tinha um retorno financeiro e um conforto merecedor junto à Zica. Mas a saúde começava a cobrar os excessos de uma vida toda. Cartola ainda fez alguns shows e recebeu merecidas homenagens, até que em novembro de 1980, ao lado de sua amada Zica, despediu-se da vida e entrou para sempre na história da música brasileira. Um filme é pouco para Cartola. Que se façam outros. Que venham outros livros, que se divulgue o site ( abaixo). Cartola, sábio do povo, poeta intuitivo, melodista nato, merece.
*Site: http://www.cartola.org.br/
*Com o pai (trecho do filme Cartola-2006): http://www.youtube.com/watch?v=acLkgRX28D8
*Com Paulinho da Viola (trecho do filme Cartola): http://www.youtube.com/watch?v=26wDkehacic&feature=related