29 de março de 2017

A Pomba na rede!

Pomba nº 1

As dicas capturadas no ar pelos antenados amigos à volta, cada vez mais surpreendentes neste mês! Desta vez o ligadíssimo editor da revista Brasileiros, Marcelo Pinheiro, veio com uma daquelas que valem o ano: a libertária e como o próprio Marcelo citou em seu post. "abusada" revista "A Pomba", publicada entre 1970 e 1972, está disponível na íntegra na rede, para deleite dos que como eu, adoram mergulhar no abismo profundo e substancioso da imprensa "nanica" ou alternativa brasileira, principalmente nos anos de chumbo da ditadura, quando a criatividade e a audácia jornalística/artística suplantavam qualquer medo, boicote ou terror. A Pomba foi das melhores e todas as suas 13 edições estão disponibilizadas na página da editora Elvira Vigna ( que produzia a revista ao lado de Eduardo Prado). A dica dada pelo Marcelo Pinheiro veio do redator chefe da Brasileiros, Daniel Benevides, que fez matéria especial com Elvira na edição atual de Cultura!Brasileiros ( aqui: http://brasileiros.com.br/2017/03/ira-de-vigna/) . De quebra, na mesma página da Elvira, edições disponíveis de "2001" (revista em que Paulo Coelho conheceu Raul Seixas)  e "Pipocas" (esta infanto-juvenil), mais dois exemplos de como a criatividade editorial da época não tinha limite. Dica primordial! valeu Marcelo Pinheiro!

http://apomba.vigna.com.br/

27 de março de 2017

Sábados da Memória das Artes Gráficas - Entrevista com Canini ( 2010)


Finalmente a grande entrevista (nos dois sentidos) com o saudoso Renato Canini (1936-2013), o homem que revolucionou o universo das histórias do Zé Carioca, feita em 2010 para o projeto Sábados da Memória, está disponível online. A HQMixTV, canal no Youtube sob responsabilidade dos organizadores do Prêmio HQMix ( Jal, Gual & Cia) colocou anteontem o vídeo no ar, com a entrevista na íntegra mediada pelo jornalista, pesquisador e tradutor Marcelo Alencar, sempre bem informado e com aquele ímpeto e emoção que só os verdadeiros fãs da nona arte carregam. A produção foi de Gualberto e Daniela Baptista e a filmagem do Nobu Chinen. O mestre Canini mergulha em sua longa história, desde sua terra natal no Sul até as passagens memoráveis por Cacique, Recreio e Crás, e os personagens de sua lavra, como Kactus Kid, Dr. Fraud e o índio Tibica ( para o projeto Tiras da Ed. Abril). E claro, Zé Carioca, personagem que encontrou sua verve ideal graças ao traço personalíssimo de Canini e o texto inteligente e de peculiar humor de Ivan Saindenberg. O ressurgimento desta entrevista crucial é uma homenagem à altura do original e genial artista!

https://www.youtube.com/watch?v=e0wSCHpYEWQ

23 de março de 2017

Al Jarreau ( 1940-2017) - por Rogério Engelmann


foto: reprodução

por Rogério Engelmann*

Ainda muito tocado com a passagem de Al Jarreau.
Virtuose, fez como poucos a ponte entre a música jazzística mais elaborada e o pop, tendo como instrumento sua voz incrivelmente versátil, de timbre inconfundível, límpido, além de potente.
Conhecia Al Jarreau do vídeo clip 'Mornin’, de 1983. Não tinha prestado muita atenção, achava muito “levinha”.
Não ligava muito porque, com a história do som e dos bailes, que bombavam naqueles dias, eu prestava mais atenção no potencial dançante, ia atrás de som mais “pegado”, o que até então eu não sentia, no pouco que eu tinha ouvido de Al Jarreau.
Porém, fui fisgado para sempre, em 1985, pela sonoridade jazzy da faixa mais pop do álbum Al Jarreau In London, a balada "I Will Be Here For You", que rodou nas rádios naquela época. Me chamou atenção o fato de ser ao vivo. “Esse canta mesmo... Banda afiada...”
Fui atrás do álbum, que aos poucos ganhou espaço no prato do toca discos. Fui realmente arrebatado pela sonoridade. Som muito elaborado, bem jazzístico, arranjos impecáveis. Depois descobri que George Benson teve sua origem também como guitarrista de jazz. Curtia muito "Give me The Night', álbum de Benson, produzido por Quincy Jones. E o mestre produtor também tinha o seu álbum, The Dude, de 1981, impecável. Nesse, descobri a cantora Patty Austin, que pra mim foi uma espécie de musa na época.
Foram esses álbuns e mais alguns desses virtuoses, que, como num batismo ou iniciação, me ligaram de forma inescapável ao universo da música negra, do soul, do jazz, do blues. Definiram meu gosto musical, me ensinaram a Ouvir, a prestar atenção.
Depois vieram outros: Stanley Clarke, Marcus Miller, Chic Corea, Jean Luc Ponty, George Duke, mais “elétricos”; Paco De Lucia, John Mc Laughlin, Al Di Meola, Crusaders, Winton Marsalis, e um posterior e natural aprofundamento no jazz clássico: Art Blakey, Chet Baker, Miles Davis, Dave Brubeck... E o jazz brasileiro: Zimbo Trio, Vitor Assis Brasil, Teco Cardoso, Pixinga, e o trio Arismar do Espírito Santo, Silvia Góes e Roberto Sion, que tive o privilégio de ouvir ao vivo muito proximamente, inclusive na mesa de som, numa casa de jazz em que trabalhei como sonoplasta e dj em 1987. Rodei muito Al Jarreau lá.
Então, numa espécie de confissão eu rabisco aqui a minha homenagem pessoal a Al Jarreau. Seu grande papel ou missão, e arrisco a dizer, o seu legado, talvez até maior do que sua música, ao longo dos seus cinquenta anos de carreira, com sua voz e carisma únicos, foi a de criar a ponte do pop para uma sonoridade mais sofisticada e ligada ao jazz. Sonoridade que, no caso dele, é lírica.
Não tenho dúvida de que Al Jarreau está lá em cima, no Paraíso, cantando "Roof Garden", perguntando no refrão:
Does anyone wanna go
waltzing in the garden?
Does anyone wanna go
dance up on the roof?
( E lá no fundo, o backing vocal: “Party…” )

* Rogério Engelmann é arquiteto e um grande construtor de textos, principalmente quando o assunto é música de boa qualidade.


22 de março de 2017

Os comics americanos nas páginas dominicais dos jornais: os museus do mundo deveriam prestar atenção neste tesouro das artes!


As páginas dominicais dos jornais americanos na primeira metade do século XX eram um verdadeiro deslumbre para os olhos, pois os grandes artistas dos comics tinham total liberdade neste dia específico da semana, para criar, viajar, aprofundar e colocar camadas nas histórias de seus personagens. Publicar em página inteira, formato que foi sendo preterido a partir dos anos 50 (na verdade, desde a segunda guerra), era um dos atributos que davam às tiras da era de ouro um ar de obra-prima. O Marcelo Alencar, em mais um de seus posts de bom gosto no FB, deu pano pra manga ontem ao publicar uma página dominical espetacular de "Bringing up Father", de Geo McManus ( 05/05/1940, acima) o que suscitou comentários apaixonados e uma certeza: todo mundo que bateu o olho no post - e tinha especialistas passando por ali - consideram McManus um gênio. Suas texturas, camadas e profundidades neste período entre os anos 30 e 40 provam isto e demonstram que o quadrinho europeu deve muito a ele, principalmente a escola franco-belga. As páginas ou pranchas dominicais sempre foram um colírio/delírio para meus olhos e quando topo com uma destas da era gold das "sunday pages", guardo em arquivo digital, para sempre que possível, me deleitar com essas obras plásticas fantásticas. Entre meus preferidos, além do McManus, Frank King ( "Gasoline Alley"), Winsor McCay ( "Little Nemo") e George Herriman (Krazy Kat). Alguns personagens pouco conhecidos no Brasil também brilharam nos domingos, como Kin-der-Kids, de Lyonel Feininger, publicado em curto período ( 1906-1907) no Chicago Sunday Tribune e tão revolucionário como Krazy Kat e Little Nemo; Little Jimmy (ou apenas Jimmy) de James Swinnerton, de 1904 ( e que durou até 1958, com um pequeno hiato na época da 2ª guerra), com inusitadas formas do uso dos balões, cores e quadros; e Polly and Her Pals, de Cliff Sterret, iniciado em 1912 e durando também até 1958. Polly foi uma das mais anárquicas contribuições para as tiras de jornais, seja na formatação dos quadros, seja em seu surreal cenário. Os museus do mundo deveriam prestar mais atenção nessas preciosidades impressas - alguns colecionadores sabem bem o seu valor histórico para as artes e guardam os originais à sete chaves. Vamos a algumas páginas destes tesouros gráficos do século XX:




10/05/1931
04/11/1928













28/05/1936
12/09/1937
03/02/1941

20 de março de 2017

Chuck "Rock and Roll" Berry (1926-2017)


O incendiário Chuck Berry, não só uma legenda, mas o "próprio" rock and roll, como disse certa vez John Lennon, foi um dos precursores que fundiram em meados dos anos 50 o blues, o country e outros ritmos para criar e legitimar o que passou a ser chamado rock. Charles Edward Anderson Berry Senior tinha como ídolos na juventude Nat King Cole e Muddy Waters e embora tocasse blues com vontade, dizia não ser tão "blue" (triste) assim, pois sempre teve comida na mesa. Logo em seus primeiros anos de rock and roll, estourou nas paradas com uma série de petardos - Rock and Roll Music", "Oh, Carol", "Johnny B.Good", "Sweet little Sixteen", "Maybellene", "Roll Over Beethoven", "Menphis, Tennessee", "You Never Can Tell" ( essa teve uma retomada forte na época do filme Pulp Fiction). Quando o rock inglês estourou no início dos 60, lá estavam as músicas do homem nos primeiros discos dos Beatles, dos Rolling Stones ( "Come On", compacto de estreia do grupo). E foi com essa leva de roqueiros que seu nome perdurou nos anos 60 e 70, depois de uma tragédia pessoal em 1959 que o levou à prisão por 10 meses ( mais um do panteão do rock and roll a se "ferrar" no biênio 59/60, período em que o rock and roll foi considerado morto e enterrado). Seu gênio difícil, irracível e sua "excentricidade" estavam sempre por perto... num projeto/homenagem que Keith ajudou a produzir nos anos 80 ( Hail, Hail, Rock and Roll), os dois já tinham se estranhado, quando o mestre parou o ensaio da música Oh,Carol, do repertório dos Stones por anos, para dizer que Keith estava completamente errado. A reverência era tanta, que Keith, brigão notório,acabou engolindo o chiclete, mesmo contrariado. Em outra época, se saiu pior: ao encontrar uma guitarra do ídolo dando sopa no camarim, Keith começou a tocar e acabou levando um soco na fuça de Chuck. Coisas do amor! O ritmo de Berry foi se arrefecendo a partir dos anos 80 - seu último LP de estúdio com inéditas foi em 1979 - mas seus shows continuaram movimentados e cheios de energia, embora ele soubesse como ninguém entreter a plateia quando se cansava. Passou pelo Brasil em uma edição do Free Jazz e na primeira década deste século, por duas vezes. Quando fez 90 anos, anunciou que estava finalizando um disco novo, com inéditas, a sair em 2017! Chuck Berry, o Sr. Rock and Roll, se despede em grande estilo - o que não poderia ser diferente em se tratando de Chuck Berry.

https://www.youtube.com/watch?v=NIb-Q2xyHcc

https://www.youtube.com/watch?v=6ROwVrF0Ceg

https://www.youtube.com/watch?v=kT3kCVFFLNg

Um grande momento de Hail, Hail Rock and Roll (1987) : https://www.youtube.com/watch?v=Gb5BifGi-6Q

https://www.youtube.com/watch?v=5madtiLf7DI


17 de março de 2017

Jay Lynch e Skip Williamson - dois ícones do underground se despedem

Os dois, Jay e Skip, são da mesma geração e foram legendas do underground americano, com artes extremamente originais e de identidade própria. Suas histórias, ilustrações, capas, cartuns, dão o tom de uma época criativa e anárquica dos quadrinhos independentes, com muita acidez no humor e psicodelismo no grafismo. Neste mês de março foram para outro plano - Jay em 05/03 e Skip ontem, ambos com 72 anos. Que as obras desses geniais artistas continuem inspirando novas gerações de "inconformados" e sonhadores!

A arte de Jay Lynch:








A  arte de Skip Williamson:




Ms. natural, criação de Robert Crumb, com arte de Skip

14 de março de 2017

Casa de Rui Barbosa disponibiliza folhetos de cordel pioneiros e clássicos


Esta semana anda plena de dicas boas. A última delas, do amigo Nilton Jorge, traz uma ótima notícia vinda dos lados da Casa de Rui Barbosa, fundação carioca ligada ao Ministério da Cultura. A instituição vem desde dezembro de 2016 desenvolvendo um projeto de digitalização - e em alguns casos restauração - de 2340 folhetos de cordel de 21 poetas! Se por um lado o acesso físico a esse acervo só é permitido a pesquisadores e estudiosos e é preciso uma autorização da fundação para consulta no local, com esse novo projeto online abriu-se uma janela incondicional para o aprofundamento da história do cordel no país. O trabalho, sob direção da pesquisadora Ivone da Silva Ramos Maya, estava inicialmente focado na obra do pioneiro poeta paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), considerado um grande mestre do cordel e dono da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, fundada em 1988. Mas com o sucesso da empreitada, optou-se por expandir esse resgate e outros 20 poetas tiveram suas obras incluídas. Grande parte desse acervo já caiu em domínio público ou foi autorizado pelos herdeiros - foram dois grupos escolhidos: os pioneiros, nascidos na segunda metade do século 19 e os da segunda geração, nascidos no início do século 20 e inseridos nesse mercado quando os pioneiros já tinham morrido. Uma iniciativa exemplar - se outras áreas como as das  revistas e gibis da época de ouro e a imprensa alternativa e de humor tivessem esse cuidado com sua história, a memória gráfica brasileira estava salva.

Para consultar: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/acervo.html











12 de março de 2017

Rolling Stone brasileira, série 1, disponibilizada na rede

A rara número zero
Mais uma "dica duca" do amigo João Antonio Buhrer ( o homem dos "arquivos incríveis"): a página "Pedra Rolante", projeto sem fins lucrativos do pesquisador Cristiano Grimaldi, disponibiliza para leitura todas as edições da Rolling Stone brasileira - 1ª série ( 1971 a 1973), um marco na imprensa musical brazuca editada por Luis Carlos Maciel ( do Pasquim e um dos pioneiros da imprensa alternativa) com colaboradores do calibre de Ana Maria Bahiana e Ezequiel Neves ( "Zeca Jagger"). O jornal/revista saía por conta da garra/paixão dessa pequena turma que compunha a redação pois embora a Rolling Stone gringa tivesse dado aval para a edição nacional, cobrava royalties e não dava nenhum subsídio material ou investimento para sua continuidade. A publicação durou pouco mais de dois anos ( novembro de 1971 a janeiro de 1973) e virou lenda, pelo seu conteúdo anárquico e pela dificuldade em encontrar exemplares em bom estado. Agora, pode ser lida graças à essa primordial iniciativa, incluindo aí a rara número zero, distribuída gratuitamente na época de lançamento em edição limitada.

https://www.pedrarolante.com.br/

10 de março de 2017

"Eu Não Sou Lixo", de Gonçalo Junior

Vem aí mais uma grande biografia escrita pelo pesquisador e jornalista Gonçalo Junior! Amanhã ( sábado) para minha alegria, ele estará em São Caetano do Sul, minha terra, lançando o livro "Eu Não Sou Lixo" (Editora Noir), biografia do cantor e compositor Evaldo Braga ( de "Sorria, Sorria" e a própria "Eu Não Sou Lixo" entre outras pérolas do cancioneiro popular), morto precocemente aos 27 anos. Gonçalo continua com o foco em temas e perfis que fogem da obviedade e do lugar comum - ele já escreveu obras fundamentais com foco nas histórias em quadrinhos ( Guerra dos Gibis 1 e 2, por exemplo), fez livro sobre a história do chiclete, caixa compilando as chamadas "tijuanas bibles", revistinhas americanas com sátiras pornôs do cinema e da animação dos anos 30 aos 50, e entre as biografias com sua assinatura já se aprofundou na vida e carreira de personalidades díspares como Rubem Alves, Assis Valente e Claudio de Souza ( aproveitando sua história dentro da Abril para revelar a saga da família Civita e os bastidores da editora), todas reveladoras e surpreendentes, resultado de sua pesquisa milimétrica e profunda. O local do lançamento será na Rick and Roll Discos - que está em novo endereço em parceria com o Duboiê Bar, no centro da cidade. Um evento que promete, pois além de finalmente rever o Gonçalo ( a última foi em uma premiação de quadrinhos e já faz um tempo), encontrarei certamente mais amigos e levarei no fim das contas pra casa uma obra vibrante com a qualidade de quem nunca escreve nada sem paixão.

2 de março de 2017

Os 30 anos da Rick and Roll Discos - entrevista no jornal ABC Repórter (24/02/2017)


Na sexta feira passada, véspera do feriadão de Carnaval, saiu no jornal ABC Repórter uma entrevista que fiz com o Ricardo "Rick" Martins por ocasião dos 30 anos de sua loja, a Rick and Roll, um verdadeiro patrimônio cultural da cidade de São Caetano. Na verdade foi publicada parte dessa grande entrevista e a expectativa é que saia ainda a sequência. Nessa primeira parte, Rick conta desde seus primeiros anos, quando conheceu pra valer o rock e também sua iniciativa inicial com o Rocker Jornal no início dos anos 80, até chegar à compra de uma loja de heavy metal pertencente a um amigo. Estava inaugurada a loja Rick and Roll, especializada em rock, principalmente o de raiz ( rock and roll, rockabilly) e vertentes mais atuais ( psychobilly), mas com uma diversidade de opções dentro do universo do rock que faz qualquer apaixonado, colecionador ou fã se perder de amor em suas prateleiras.
O link para a entrevista, aqui:

http://digital.maven.com.br/pub/abcreporter/?numero=3651

http://digital.maven.com.br/pub/abcreporter/?numero=3651#page/11