31 de outubro de 2017

Betinho Moraes: Um Guitarrista com a Corda Toda

Saiu do forno o fanzine/livreto "Betinho Moraes - Um Guitarrista com a Corda Toda", obra que eu estava burilando há alguns meses e que agora veio à luz. Betinho Moraes foi uma figura fundamental para se entender  a música, a loucura e a criatividade dos incandescentes anos das décadas finais do século XX. Naturalmente underground, passou por bandas obscuras do ABC até entrar para o Devotos de NSDA do Luiz Thunderbird e em seguida para o Kães Vadius, a primeira banda de psychobilly do Brasil. Além de tocar muito qualquer estilo musical, Betinho colecionou histórias tragicômicas, surreais e emocionantes, muitas delas por conta de sua maneira intensa e à flor da pele de viver a vida. Vida que acabou escorrendo pelas suas mãos muito cedo, mas que deixou um rastro profundo e inesquecível nos caminhos boêmios e intensos da nossa juventude oitentista. Betinho Moraes inaugura a série "Sons do ABC" ( esse é o número zero) que eu espero ter vida longa, mesmo independente/ às próprias custas. Muitos amigos colaboraram com depoimentos, fotos, memorabilia e dicas. Fica aqui meu agradecimento sincero ( e lá no fanzine a inclusão de cada um nos agradecimentos oficiais). Em breve, posto aqui como, onde e quando se dará o lançamento. Viva Betinho Moraes!




29 de outubro de 2017

Torquato Neto: Todas as Horas do Fim

Ontem foi uma noite especialmente mágica: recebi convite do diretor Eduardo Ades para assistir a estreia do filme "Torquato Neto: Todas as Horas do Fim" em São Paulo, dentro da Mostra de Cinema  que rola até o início de novembro em toda a cidade. A sessão era no Cinema Itaú do Shopping Frei Caneca e fui com muita expectativa junto à family assistir ao documentário sobre a vida e obra do enigmático poeta piauiense, peça chave do tropicalismo e da contracultura da virada dos 60 para os 70. A direção e roteiro tem a mão dos diretores Eduardo Ades e Marcus Fernando e traz uma película muito bem pesquisada mas que não caiu propositalmente no caminho da biografia óbvia e já tão documentada e comentada. É um filme de sensações principalmente, com trechos de filmes famosos ( Macunaíma, Deus e o Diabo na Terra do Sol, O Bandido da Luz Vermelha, entre outros, além dos filmes mais obscuros e os ligados à Torquato, principalmente "Nosferato no Brasil" de Ivan Cardoso, que teve o poeta como protagonista) cenas reais da época ( ruas de Copacabana, madrugada carioca, Dunas da "Gal", exílio dos tropicalistas) e momentos cruciais da música e da política ( programas e festivais na TV, passeata dos Cem Mil, festa do disco Tropicália na Estudantina, cenas violentas da repressão militar, programa do Chacrinha). Digo "sensações" porque optou-se pelo lado poético de Torquato, pois como um dos entrevistados frisou bem em seu depoimento, ele sempre botou poesia onde passou - música, cinema, jornalismo, literatura, arte marginal. E o que se percebe durante as quase 1 hora e meia de filme é a intervenção explícita de Torquato em todas as cenas expostas, seja em áudio na primeira pessoa ( a maioria feita por dois atores) seja em aparições reais ( fotos e cenas raras do poeta - uma que chama muita atenção é ele na janelinha de um jato Varig acenando para fora antes de zarpar para Londres). Mesmo as imagens da época em que não está de corpo presente trazem a impressão de que seu olhar perscruta tudo ao redor. Embrulhando tudo isto, sua poesia e letra escorre na tela, em trechos, manuscritos, declamações e interpretações emocionantes das suas letras em música - desde as bossas singelas e canções de lembranças nordestinas do início de carreira, passando para as composições ditas tropicalistas e parcerias ecléticas ( com Edu Lobo - a magnífica Pra Dizer Adeus - , Luiz Melodia, Jards Macalé, Renato Piau, entre outros). Gilberto Gil foi o parceiro mais constante, pelo menos até o rompimento da parceria, que se deu no momento do exílio dos baianos em 1969 - e que segundo depoimentos de Gil e Caetano aconteceu sem nenhuma briga formal. A veia jornalística surge de leve - apenas sua coluna Geléia Geral aparece com mais destaque - prevalecendo a imagem mais cinematográfica ( Nosferato percorre toda a parte final do documentário, justamente a fase em que Torquato é internado mais vezes, luta com o alcoolismo e rompe com amizades e projetos) e contracultural ( cenas raras com seu amigo Helio Oiticica e imagens e transcrição de carta sobre a revista literária Navilouca, de número único, produzida junto dos amigos poetas concretistas). No final da sessão, depois dos letreiros tendo ao fundo "Go Back" ( letra de Torquato e música de Sergio Britto gravada pelos Titãs) rolou uma rápido bate-papo com os diretores e ficou ainda mais clara a proposta da produção: uma pessoa na plateia sentiu falta no filme do suposto "affair" entre Torquato e Caetano, e a resposta dada foi que essa suposição não ficou registrada/marcada na obra de Torquato, ficando, portanto, à revelia do enredo, que preferiu focar no romance/casamento com Ana, parceira efetiva/afetiva em sua vida e que lhe deu o filho único Thiago ( que estava presente na plateia). Outro assunto já batido que acabou de fora da edição final foi "Cajuína", música escrita por Caetano quando se encontrou com o pai de Torquato algum tempo depois de sua morte. O suicídio no dia de seu aniversário de 28 anos é tratado com sutileza e cuidado durante toda a película - o que não quer dizer que foi minimizado, pelo contrário. Depoimentos diversos citam essa tragédia pessoal, alguns lembrando que o tema morte era sempre comentado por Torquato - que de uma pessoa doce e contida, podia se transformar depois de doses a mais em um sujeito agitado, agressivo e melancólico. O cineasta Ivan Cardoso, sempre espirituoso, cita que Torquato foi um drácula legítimo ( Nosferato de novo), mesmo quer insistisse em usar sandálias alparcatas hippies por baixo de seu traje sinistro, e que como tal, pode reaparecer a qualquer momento. Torquato reparece sim - em canções póstumas, em homenagens diversas, em matérias especiais, em livro - Toninho Vaz, que acabou de finalizar a biografia de Zé Rodrix - fez uma obra excelente sobre ele-, e agora nesse belo filme, que longe de ser uma biografia completa, exala poesia e vida por todos os seus poros, sem esconder as tragédias, mas exaltando a arte transcendental e contracultural de Torquato Neto.


27 de outubro de 2017

Fats Domino (1928-2017)


Fats Domino é um pioneiro e um sobrevivente. Pioneiro porque foi um dos primeiros a transformar o rhytm'blues em um novo som chamado rock and roll ( com gravações ainda no final dos anos 40). Sobrevivente porque conseguiu com seu talento inato de compositor e instrumentista passar por preconceitos sociais e tendências pré-estabelecidas do establishment musical, alcançando as paradas em muitos momentos e há alguns anos atrás ter literalmente sobrevivido à catástrofe que se abateu sob New Orleans, com o advento do Furacão Katrina ( mais precisamente em 2005). Os noticiários o tinham como morto pois seu bairro inteiro fora devastado pela força do furacão, mas no ano seguinte ele reapareceu, e sua lenda pessoal ficou ainda mais impressionante ( leiam esse caso com mais detalhes aqui - http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,fats-domino-pianista-lendario-do-rock-and-roll-morre-em-new-orleans,70002060255 ). Nesta semana ele faleceu de causas naturais aos 89 anos e deixou um legado artístico legítimo e fundamental para a compreensão da evolução da música do século XX. Fats foi influência para muitos, a começar pelo King Elvis Presley, que no final de vida o reverenciou como peça chave em seu início de carreira; e Paul McCartney, que visualizou na mente sua performance arrebatadora para compor Lady Madonna para os Beatles. Em cada pianista do pop e do rock dos anos 60/70 havia um bocado de Fats Domino em seu tempero ( Elton John, Billy Joel, Billy Preston, Nicky Hopkins, Steve Winwood, etc). O lendário Fats Domino, compositor de uma música muitas vezes simples, mas sempre pungente e vibrante, descansou afinal seu corpo físico, mas está desde sempre em nossos corações e ouvidos, graças ao bom Deus.

https://www.youtube.com/watch?v=sJqlmRM-Oyc

24 de outubro de 2017

Nani homenageia Ziraldo, 85


O sempre ótimo Nani postou há pouco nas redes sua homenagem ao amigo Ziraldo, que completa 85 anos. O mestre Ziraldo continua com muita disposição e muitos projetos e espero que ele permaneça assim por muitos anos ainda, para que sua arte siga nos surpreendendo e deixando esse planeta mais inteligente e lúcido. Viva mestre Ziraldo !

20 de outubro de 2017

A Kombi traz o espírito de "Woodstock"

divulgação Volkswagen
Esse belíssimo filme, intitulado Rain, foi produzido para uma promoção da Volkswagen e traz a icônica Kombi em seu habitat natural, ou seja, ao lado da comunidade hippie em Woodstock  onde tão bem representou o "veículo comunitário" de uma geração. Na película de 60 segundos, tendo ao fundo o hino "With a Little Help from My Friends", que explodiu no festival na interpretação pungente e arrebatadora de Joe Cocker, o espírito de coletividade, esperança e união -  cartas fora do baralho atual da globalização fragmentada - se faz presente como um pedido do tempo ao mundo.


http://adnews.com.br/publicidade/volkswagen-celebra-com-nostalgia-seus-anos-incriveis.html


https://www.youtube.com/watch?v=342QpEFmRpU



17 de outubro de 2017

Bichos do Mês: Tatuzinho e Besourinho


Abrindo os trabalhos para uma nova atração fotográfica do blog, incio esse "Bichos do Mês" com duas simpáticas criaturinhas que passeavam em minha calçada neste outubro de temperaturas extremas: 1 - um Tatuzinho, espécie lendário de minha infância  /junto ao nobre Louva-a-Deus/  que dispõe de centenas de patas e tem como característica se enrolar como uma bola ao ser cutucado e 2 - um Besouro Negro, que eu costumo ver por aqui vez em quando, mas não sei precisar o nome correto  /se passar um entendido em Zoologia por aqui, por favor.../ Este especificamente tem um corpo bem fino.

A minha região, Grande ABC Paulista, embora urbana, é repleta de aves e animais minúsculos. Tentarei, mesmo sabendo que o celular não é exatamente uma ferramenta ideal para este tipo de observação, trazer para esta página um pouco desta fauna que se esconde nas ranhuras, galhos, copas e fissuras do concreto e do chão urbano.







10 de outubro de 2017

"Arbustinho", de Edú, no Tiras Memory

Eu já postei sobre o Tiras Memory aqui , mas reitero: é um dos blogs mais interessantes sobre quadrinhos na atualidade. O Luigi Rocco, que também é cartunista/caricaturista, vem fazendo um trabalho fantástico de resgate das tiras clássicas nacionais,  publicadas - em sua maioria - em jornais espalhados pelo território brasileiro no decorrer do século XX. Grande parte desses jornais já não existe mais, o que torna esse projeto ainda mais pertinente e trabalhoso. Vida longa ao Tiras Memory...
Além de exaltar o blog, também quero deixar registrada minha felicidade ao ver a tira do Arbustinho, personagem criado pelo artista Edú na primeira metade dos anos 60 para o Diário de S.Paulo. Fiquei tão contente com essa "caçada" magnífica do Rocco, que imediatamente mandei o link para o e-mail do Edú, que não está nas redes sociais. Vejam a resposta dele, abaixo:

Marcos,
Muito obrigado por me mostrar esse material.
Infelizmente, ao longo dos anos, eu o perdi e, confesso,
foi muito emocionante reaver os primórdios de minha
longa carreira.
Valeu mesmo...  
Grande e forte abraço!

Edu


Agradecimentos todos para o Rocco, e merecidamente. Eu também aproveito e o agradeço por ter usado como base para o perfil do artista no mesmo post, a entrevista com o Edú que fiz para os Colecionadores de HQs, acompanhado do respectivo link. Valeu!

9 de outubro de 2017

Foto do Mês: Keith & Angus

Essa eu pesquei de uma nota da Whiplash: em plena turnê "No Filter" pela Europa, os Rolling Stones tiveram a ilustre visita hoje (09/10), em Dusseldorf, Alemanha, do guitarrista do AC/DC Angus Young! A foto acima, para a posteridade, foi postada por Keith Richards em seu perfil oficial no Twitter!

https://twitter.com/officialKeef?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwhiplash.net%2Fmaterias%2Fnews_774%2F271347-rollingstones.html

FLIQ no Colecionadores de HQs

Eu e o Frigo. ( foto de Letícia Massolini com efeitos de Augusto Minighitti)
Depois da visita ao II Festival Limeirense de Quadrinhos, postada aqui com pompa e circunstância, consegui replicar o já histórico encontro lá na minha coluna "Alma de Almanaque" do site Colecionadores de HQs, mais um canal mantido pelo elétrico Renato Frigo, sem fins lucrativos e com o intuito de unir colecionadores, fãs e pesquisadores da Nona Arte. O conteúdo ficou bem parecido com o post aqui do blog, mas com a adição preciosa de imagens meticulosamente editadas pelo Frigo, o conjunto todo ficou ainda mais condizente com o clima de amizade e camaradagem proporcionadas in loco no Festival. Segue o link:


3 de outubro de 2017

Tom Petty ( 1950-2017)

Ontem, a notícia de que Tom Petty havia sofrido um infarto e estava em coma no hospital deixou muita gente perplexa nas redes. Afinal, o compositor/cantor e multi-instrumentista americano estava em plena atividade ( o último show foi no dia 25/09) aos 66 anos e não demonstrava cansaço dos palcos. O baque da notícia ficou ainda mais intenso quando notícias desencontradas da mídia internacional ora informavam que o músico estava em coma, ora informavam que ele havia falecido. Esse desencontro só acabou quando um comunicado oficial da família à noite confirmou seu falecimento. A partir daí, uma enxurrada de mensagens dos fãs, amigos e colegas da música inundou a internet, comprovando o quanto Tom Petty é querido e tem prestígio no meio musical. Eu ouvi muito Tom Petty na vida - todas as fases - e para mim ele, tanto solo como ao lado dos Heartbreakers, sempre manteve a qualidade de suas composições e arrisco dizer que sua guitarra até melhorou com o tempo ( adoro a fase "90" com solos e riffs a rodo). Os três primeiros discos são colossais e trazem um som mais cru, misturando suas influências de Elvis, rock estradeiro, country, Bob Dylan e Byrds. No correr dos 80 e 90, Petty misturou suas influências com experimentações pops e ganchos que grudavam no ouvido - entre as experiências vale lembrar da parceria com Dave Stewart dos Eurythmics no meio dos 80, quando compôs um pop rock lisérgico com direito à clipe no País das Maravilhas ( Dave no cogumelo com narguilé e Petty "Chapeleiro Louco" ficaram na memória coletiva da década). A união mágica ocorrida no final dos 80 , início dos 90, batizada de Traveling Wilburys, supergrupo que uniu Tom Petty, Bob Dylan, Roy Orbison, George Harrison e Jeff Lynne foi uma das melhores coisas na música ocorridas naquele período - os hits se avolumaram e todos se sentiram muito bem na banda. Pena que Roy Orbison faleceu no mesmo ano de lançamento do primeiro trabalho, esvaziando o projeto, que ainda teve uma sobrevida com um segundo disco, também muito bom, mas com mais destaque para composições de Dylan. Entre o primeiro e o segundo disco dos Travelin, Tom Petty compôs aquela que iria ser sua música mais conhecida, " Free Fallin''" . O compositor adentrou o novo século com shows mundo afora ( e o Brasil, infelizmente, de fora), prêmios e participações cada vez mais frequentes em shows alheios ( e vice-versa). Ontem, a comoção foi profunda, dolorosa, porque Tom Petty partiu de repente, sem tempo para despedida. Suas músicas, que nunca saíram de nossas trilhas, continuarão firmes e fortes como sempre, e mais intensas do que nunca.

https://www.youtube.com/watch?v=3K3QqNiuHsU

https://www.youtube.com/watch?v=ig8g38GhKjY

https://www.youtube.com/watch?v=1lWJXDG2i0A

https://www.youtube.com/watch?v=h0JvF9vpqx8

https://www.youtube.com/watch?v=xqmFxgEGKH0

https://www.youtube.com/watch?v=s5BJXwNeKsQ

https://www.youtube.com/watch?v=gqYZLNMDVJc

https://www.youtube.com/watch?v=Kw2topZYXrA